Eu de barba branca a tiracolo rodeado de fumo por todos os lados vadios menos pelo lado do mar com um incêndio à ilharga e dois artelhos clandestinos eu salvo miraculosamente para te amar e curar e esperar o teu regresso glacial e escarlate que escrevo poemas desde que um rato me entrou prós pulmões e só por causa disso eu que disse: há um cancro no mapa universal e engenheiros, geógrafos, doutores se apressaram a negá-lo eu da cintura pra cima de alcatrão e terror e do umbigo pra baixo de quiosque chinês eu não espero piedade obrigado
O poema anterior tinha outro destinatário. Para aqui era o que se segue. As minhas desculpas à Farpa Kultural, ao António José Forte e ao José Afonso.
Canção da Paciência
Muitos sóis e luas irão nascer Mais ondas na praia rebentar Já não tem sentido ter ou não ter Vivo com o meu ódio a mendigar Tenho muitos anos para sofrer Mais do que uma vida para andar Beba o fel amargo até morrer Já não tenho pena sei esperar A cobiça é fraca melhor dizer A vida não presta para sonhar Minha luz dos olhos que eu vi nascer Num dia tão breve a clarear As àguas do rio são de correr Cada vez mais perto sem parar Sou como o morcego vejo sem ver Sou como o sossego sei esperar
2 comentários:
DECLARAÇÃO
Eu de barba branca a tiracolo
rodeado de fumo por todos os lados vadios
menos pelo lado do mar
com um incêndio à ilharga
e dois artelhos clandestinos
eu salvo miraculosamente para te amar e curar
e esperar o teu regresso glacial e escarlate
que escrevo poemas desde que um rato
me entrou prós pulmões e só por causa disso
eu que disse: há um cancro no mapa universal
e engenheiros, geógrafos, doutores se apressaram a negá-lo
eu da cintura pra cima de alcatrão e terror
e do umbigo pra baixo de quiosque chinês
eu não espero piedade obrigado
António José Forte
O poema anterior tinha outro destinatário.
Para aqui era o que se segue.
As minhas desculpas à Farpa Kultural, ao António José Forte e ao José Afonso.
Canção da Paciência
Muitos sóis e luas irão nascer
Mais ondas na praia rebentar
Já não tem sentido ter ou não ter
Vivo com o meu ódio a mendigar
Tenho muitos anos para sofrer
Mais do que uma vida para andar
Beba o fel amargo até morrer
Já não tenho pena sei esperar
A cobiça é fraca melhor dizer
A vida não presta para sonhar
Minha luz dos olhos que eu vi nascer
Num dia tão breve a clarear
As àguas do rio são de correr
Cada vez mais perto sem parar
Sou como o morcego vejo sem ver
Sou como o sossego sei esperar
José Afonso
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