03/09/08

Catarina Fernandes

Ouço o silêncio da calma deste quarto.
Penetra-me com inquietude.
 
Não, não pode ser.
 
As palavras que a revista emana assustam-me.
Estou aterrada.
O mundo não colide com este quarto.
 
Quero sentir na pele dos meus olhos o sangue dos olhos dos outros.
 
O sangue dos olhos dos outros é negro. É da cor do sangue que a terra teima em jorrar.
 
Oh Terra!
Acaba com esta merda pá!
Que estes corpos que por ti vagueiam têm sede do teu sangue.
 
Uma sede de loucos.
 
A sede é de loucos.
 
E os loucos andam lá em cima.
Os loucos bebem whisqui.
Os loucos abrem as pernas delas.
Mas não se esquecem do teu sangue negro.
 
A louca agora sou eu.
Estou num quarto.
O silêncio entra por um qualquer buraco da porta e eu só ouço nele o grito do sangue dos olhos dos outros.
 
Tenho medo.
 

1 comentário:

dfelix disse...
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