Depois quando as forças deram para andar, desci ao largo. Depois tomei os caminhos que havia e mais outros que depois desses eu sabia.
E tanto já me afastei dos caminhos que fizeram, que de vós todos perdido vou descobrindo esses outros caminhos que só eu sei.
Veio a guarda com a lei no cano das carabinas.
Cercaram-me no montado; puseram joelho em terra; gritaram que me rendesse à lei dos caminhos feitos. Mas eu olhei-os de longe, tão distante e tão de longe, o rosto apenas virado, que só vi em meu redor dez pobres ajoelhados perante mim, seu senhor.
Gente chegou às janelas, saíram homens à rua: - as mães chamaram os filhos, bateram portas fechadas! E eu, o desconhecido, o vagabundo rasgado, entrei o largo da vila entre dez guardas armados: - mais temido e mais amado que o deus a que todos rezam.
- Que nunca mulher alguma se rendeu mais a um homem que a moça do rosto claro ao cruzar os olhos pretos com o meu olhar de rei!
...E vendo que eu lhes fugia assim de altiva maneira à sua lei decorada, lá, longe do sol e da vida, no fundo duma cadeia, cheios de raiva me bateram. Inanimado, tombei por fim a um canto.
E enquanto eles redobravam sobre o meu corpo tombado, adormecido eu descansava de tão longa caminhada!...
1 comentário:
O MALTÊS
Em Cerromaior nasci.
Depois quando as forças deram
para andar, desci ao largo.
Depois tomei os caminhos
que havia e mais outros que
depois desses eu sabia.
E tanto já me afastei
dos caminhos que fizeram,
que de vós todos perdido
vou descobrindo esses outros
caminhos que só eu sei.
Veio a guarda com a lei
no cano das carabinas.
Cercaram-me no montado;
puseram joelho em terra;
gritaram que me rendesse
à lei dos caminhos feitos.
Mas eu olhei-os de longe,
tão distante e tão de longe,
o rosto apenas virado,
que só vi em meu redor
dez pobres ajoelhados
perante mim, seu senhor.
Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados:
- mais temido e mais amado
que o deus a que todos rezam.
- Que nunca mulher alguma
se rendeu mais a um homem
que a moça do rosto claro
ao cruzar os olhos pretos
com o meu olhar de rei!
...E vendo que eu lhes fugia
assim de altiva maneira
à sua lei decorada,
lá,
longe do sol e da vida,
no fundo duma cadeia,
cheios de raiva me bateram.
Inanimado,
tombei por fim a um canto.
E enquanto eles redobravam
sobre o meu corpo tombado,
adormecido
eu descansava
de tão longa caminhada!...
(Manuel da Fonseca)
zé do zeca
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