15/11/12
O que a violência não pode esconder
Já várias vezes escrevi sobre este assunto: na política, como no resto, a violência tem o poder de se impor, de forma despótica, sobre todos os argumentos e sobre todas as outras formas de luta. Ela impõe-se pela sua irracionalidade e pelo seu poder mediático. Ela impõe-se porque replica, na contestação, os códigos do poder do mais forte.
Depois de ter participado numa manifestação pacifica, passei o fim de tarde de ontem, em São Bento, a gritar com os poucos (e eram mesmo poucos) que arremessavam objetos contra a polícia. Tentando explicar-lhes, sem sucesso, que esse era o favor que faziam a quem julgavam que estavam a combater. Fi-lo, desesperado com o que via, porque sabia duas coisas: que aqueles gestos dariam ao governo a desculpa que faltava para reprimir a contestação e que ofuscariam uma excelente greve geral, que deixou claro o isolamento em que o governo se encontra. Mas, acima de tudo, por uma razão: tenho, em relação à violência, uma objeção de princípio. Considero-me um pacifista no sentido mais radical do termo.
Quando, às 17.30, me apercebi que nada pararia uma minoria de idiotas, abandonei o local. Muitos decidiram ficar, mantendo a devida distância dos desordeiros, sem que, como vimos mais tarde, isso os livrasse de ser vítimas da violência policial. Era certa a injustiça: a enorme coragem que tantos trabalhadores portugueses mostraram, ao correr o risco de fazer greve (muitos deles precários e em risco de perderem o emprego) e ao perder um dia de salário que tanta falta lhes faria, seria esmagada pelas imagens de violência que sempre têm a preferência dos media.
Dito isto, há que deixar claras uma contradição e uma mentira do ministro da Administração Interna.
Disse o ministro que as provocações - que existiram - eram obra de "meia dúzia de profissionais da desordem". Se eram meia dúzia (facilmente identificável depois de uma hora e meia de tensão), porque assistimos a uma carga policial indiscriminada, que varreu, com uma violência inusitada e arbitrária, tudo o que estava à frente? Porque foram agredidos centenas de manifestantes pacíficos, só porque estavam no caminho, naquilo que, segundo a Associação Sindical da PSP foi a "maior carga policial desde 1990"? Conheço várias pessoas que, como a esmagadora maioria dos que ali estavam, não participaram em qualquer desacato. Não tendo sequer resistido a qualquer ordem policial foram, segundo os seus próprios relatos, espancadas pelas forças que deveriam garantir a sua segurança. Como é possível que tenham sido detidas dezenas de pessoas no Cais do Sodré e noutros locais da cidade, sem que nada tivessem feito a não ser fugir de uma horda de polícias em fúria e aparentemente com rédea solta para bater em tudo o que mexesse? Entre os detidos e os agredidos estava muita gente que, estando tão longe de São Bento, nem sequer tinha estado na manifestação ou sabia o que se passava. Como é possível que dezenas e dezenas de pessoas tenham sido detidas em Monsanto e na Boa Hora sem sequer lhes tenha sido permitido qualquer contacto com advogados, como se o País estivesse em Estado de Sítio e a lei da República tivesse sido abolida?
Quando a polícia espancou gente pacifica em vários locais da cidade, estava a garantir a ordem pública ou a contribuir para a desordem? Estava a garantir a integridade física dos cidadãos ou a pô-la em causa? Estava a garantir o cumprimento da lei ou a violá-la? Estava a reprimir os "profissionais da desordem" ou a espalhar a desordem pela cidade? O comportamento inaceitável de meia dúzia pode justificar um comportamento arbitrário das forças de segurança, que não poupa ninguém a quilómetros de distância da própria manifestação?
Não, o comportamento de alguns desordeiros não pode, num Estado de Direito, permitir que a polícia se comporte, ela própria, como desordeira. O crime de uns não permite um comportamento criminoso das forças policiais.
O ministro da Administração Interna garantiu que, ao contrário do que foi escrito em vários órgãos de informação, não havia agentes infiltrados na manifestação, a promover os desacatos para excitar os mais excitáveis e justificar esta intervenção. Fico-me por aqui: sei o que vi antes de me vir embora. E os agentes infiltrados começam a ser cada vez mais fáceis de identificar. Já uma vez o ministro desmentiu uma notícia semelhante que depois ficou provada. Espero que outros tenham conseguido recolher imagens que mostrem alguns dos que, no meio da multidão, vão semeando a confusão.
No dia 15 de Setembro elogiei o comportamento das forças policiais. Quando querem evitar o confronto sabem bem como o fazer. Isolando os provocadores e garantindo o direito à manifestação da maioria pacifica. Quando as ordens parecem ser diferentes é fácil contribuir para a violência. Foi o que aconteceu ontem. Uns tantos idiotas de cara tapada e as ordens certas vindas de cima chegam para garantir que uma greve geral com mais adesão do que o esperado pelo governo morra nos telejornais.
Escrito tudo isto, volto ao que é importante: a greve geral de ontem foi uma das maiores da nossa história. E nem os que procuram nas manifestações a excitação que outros encontram nas claques de futebol conseguem esconder isso. E nem a violência indiscriminada que o ministro da Administração Interna mandou espalhar por meia cidade de Lisboa o pode fazer ignorar. Na televisões, foi a brutalidade de uns e de outros que ganhou. Mas o dia de ontem foi bem mais do que isso: foi uma prova de coragem. Os portugueses estão de parabéns.
de Daniel Oliveira
Depois de ter participado numa manifestação pacifica, passei o fim de tarde de ontem, em São Bento, a gritar com os poucos (e eram mesmo poucos) que arremessavam objetos contra a polícia. Tentando explicar-lhes, sem sucesso, que esse era o favor que faziam a quem julgavam que estavam a combater. Fi-lo, desesperado com o que via, porque sabia duas coisas: que aqueles gestos dariam ao governo a desculpa que faltava para reprimir a contestação e que ofuscariam uma excelente greve geral, que deixou claro o isolamento em que o governo se encontra. Mas, acima de tudo, por uma razão: tenho, em relação à violência, uma objeção de princípio. Considero-me um pacifista no sentido mais radical do termo.
Quando, às 17.30, me apercebi que nada pararia uma minoria de idiotas, abandonei o local. Muitos decidiram ficar, mantendo a devida distância dos desordeiros, sem que, como vimos mais tarde, isso os livrasse de ser vítimas da violência policial. Era certa a injustiça: a enorme coragem que tantos trabalhadores portugueses mostraram, ao correr o risco de fazer greve (muitos deles precários e em risco de perderem o emprego) e ao perder um dia de salário que tanta falta lhes faria, seria esmagada pelas imagens de violência que sempre têm a preferência dos media.
Dito isto, há que deixar claras uma contradição e uma mentira do ministro da Administração Interna.
Disse o ministro que as provocações - que existiram - eram obra de "meia dúzia de profissionais da desordem". Se eram meia dúzia (facilmente identificável depois de uma hora e meia de tensão), porque assistimos a uma carga policial indiscriminada, que varreu, com uma violência inusitada e arbitrária, tudo o que estava à frente? Porque foram agredidos centenas de manifestantes pacíficos, só porque estavam no caminho, naquilo que, segundo a Associação Sindical da PSP foi a "maior carga policial desde 1990"? Conheço várias pessoas que, como a esmagadora maioria dos que ali estavam, não participaram em qualquer desacato. Não tendo sequer resistido a qualquer ordem policial foram, segundo os seus próprios relatos, espancadas pelas forças que deveriam garantir a sua segurança. Como é possível que tenham sido detidas dezenas de pessoas no Cais do Sodré e noutros locais da cidade, sem que nada tivessem feito a não ser fugir de uma horda de polícias em fúria e aparentemente com rédea solta para bater em tudo o que mexesse? Entre os detidos e os agredidos estava muita gente que, estando tão longe de São Bento, nem sequer tinha estado na manifestação ou sabia o que se passava. Como é possível que dezenas e dezenas de pessoas tenham sido detidas em Monsanto e na Boa Hora sem sequer lhes tenha sido permitido qualquer contacto com advogados, como se o País estivesse em Estado de Sítio e a lei da República tivesse sido abolida?
Quando a polícia espancou gente pacifica em vários locais da cidade, estava a garantir a ordem pública ou a contribuir para a desordem? Estava a garantir a integridade física dos cidadãos ou a pô-la em causa? Estava a garantir o cumprimento da lei ou a violá-la? Estava a reprimir os "profissionais da desordem" ou a espalhar a desordem pela cidade? O comportamento inaceitável de meia dúzia pode justificar um comportamento arbitrário das forças de segurança, que não poupa ninguém a quilómetros de distância da própria manifestação?
Não, o comportamento de alguns desordeiros não pode, num Estado de Direito, permitir que a polícia se comporte, ela própria, como desordeira. O crime de uns não permite um comportamento criminoso das forças policiais.
O ministro da Administração Interna garantiu que, ao contrário do que foi escrito em vários órgãos de informação, não havia agentes infiltrados na manifestação, a promover os desacatos para excitar os mais excitáveis e justificar esta intervenção. Fico-me por aqui: sei o que vi antes de me vir embora. E os agentes infiltrados começam a ser cada vez mais fáceis de identificar. Já uma vez o ministro desmentiu uma notícia semelhante que depois ficou provada. Espero que outros tenham conseguido recolher imagens que mostrem alguns dos que, no meio da multidão, vão semeando a confusão.
No dia 15 de Setembro elogiei o comportamento das forças policiais. Quando querem evitar o confronto sabem bem como o fazer. Isolando os provocadores e garantindo o direito à manifestação da maioria pacifica. Quando as ordens parecem ser diferentes é fácil contribuir para a violência. Foi o que aconteceu ontem. Uns tantos idiotas de cara tapada e as ordens certas vindas de cima chegam para garantir que uma greve geral com mais adesão do que o esperado pelo governo morra nos telejornais.
Escrito tudo isto, volto ao que é importante: a greve geral de ontem foi uma das maiores da nossa história. E nem os que procuram nas manifestações a excitação que outros encontram nas claques de futebol conseguem esconder isso. E nem a violência indiscriminada que o ministro da Administração Interna mandou espalhar por meia cidade de Lisboa o pode fazer ignorar. Na televisões, foi a brutalidade de uns e de outros que ganhou. Mas o dia de ontem foi bem mais do que isso: foi uma prova de coragem. Os portugueses estão de parabéns.
de Daniel Oliveira
14/11/12
12/11/12
25/10/12
12/10/12
20/08/12
17/08/12
13/08/12
11/08/12
01/08/12
Leitura partilhada 19
Estes contos, tratam-se de textos breves, que deixam ao leitor múltiplas interpretações sobre o seu sentido, e onde quase sempre se evocam situações banais fazendo uso de um humor fortemente satírico, procurando a crítica social e política.
27/07/12
25/07/12
19/07/12
26/06/12
12/06/12
27/05/12
Passos coelho na arte infantil
Uma exposição de trabalhos feitos por crianças está a gerar polémica em Castro Daire. Um dos alunos da escola básica criou um espantalho que satiriza o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, enforcado e a segurar uma lista de dívidas. Os responsáveis da escola acusam a autarquia de ter, entretanto, mandado retirar o boneco, o que indignou professores e alunos. http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/sociedade/autarquia-retira-passos-da-forca
25/05/12
23/05/12
30/04/12
23/04/12
Em Defesa da Cultura
O Manifesto em defesa da Cultura participará na manifestação do 25 de Abril, com a sua campanha em defesa de 1% para a Cultura. 1% do Orçamento do Estado, como patamar mínimo, rumo a 1% do PIB, como recomenda a UNESCO a países com o nível de desenvolvimento de Portugal.
Etiquetas:
Acções e Performances,
Agenda
22/04/12
20/04/12
18/04/12
16/04/12
15/04/12
14/04/12
12/04/12
Publicidade enganosa
O
vídeo não é espectacular, nem prefeito, nem exacto, apesar disso, é uma
boa denúncia da publicidade enganosa que apela aos portugueses para
comprarem o que é "nosso", mas que na verdade não é.
11/04/12
P31
10/04/12
Passeios Culturais no Chiado
09/04/12
Além Paredes
07/04/12
04/04/12
03/04/12
02/04/12
01/04/12
30/03/12
29/03/12
28/03/12
9ª Festa do Jazz
Durante três dias o Teatro S. Luíz é o ponto de encontro para músicos e amantes de jazz de todo o país; aqui encontram um espaço de partilha, de diálogo, mas também de confronto e de experimentação. Os concertos, os discos apresentados, as masterclasses, as jam sessions são elementos que contribuem para a singularidade de um festival que se assume como Festa.
1, 2, 3 de Abril - Teatro S. Luíz
27/03/12
26/03/12
25/03/12
24/03/12
23/03/12
22/03/12
21/03/12
Valsa quase antidepressiva
Dança comigo a primeira valsa da Primavera: dança sem sonhos, esquece as promessas, ninguém nos espera. Já enchi os dias de lutas vazias: estou gasto, cansado, dormente. E a um pouco de sexo, ou muita poesia, ainda não fico indiferente. Fala comigo na palavra falsa da fantasia: chovem amigos na festa da praça do meio dia. É certo que as flores parecem maiores que toda a virtude do mundo: com um pouco de sexo, ou muita poesia, ainda me sinto profundo. Se este mundo fosse feito para ser doce eu seria doce fosse eu quem fosse. Foge comigo na última volta da maratona, nada comigo num lago indeciso de metadona. Já deixei as asas na cave da casa e as chaves no fundo do mar: com um pouco de sexo, ou muita poesia, ainda nos vamos casar.
letra JP Simões, música Sérgio Costa
letra JP Simões, música Sérgio Costa
20/03/12
19/03/12
09/03/12
07/03/12
Não se recomenda
By alexmgomes in http://afarpa.wordpress.com/2012/03/06/carta-aberta-aos-camaradas-francisco-louca-e-mariana-mortagua/
Carta aberta aos camaradas Francisco Louçã e Mariana Mortágua.
Camaradas,Foi com alguma surpresa que soube que Marcelo Rebello de Sousa tinha sido escolhido para apresentar o vosso livro. Não posso realmente dizer que tenha ficado muito surpreendido pois conheço bem o funcionamento das elites, sei que elas são transversais a esquerda e a direita e sabem proteger-se muito bem. Estar afastado delas ajuda a compreender este fenómeno.
A escolha foi assumida publicamente pelo camarada Francisco Louçã como “polémica”. De facto é polémica, mas apenas para aqueles que nutrem respeito por ambos os camaradas, para aqueles que não esquecem de que lado da barricada estão na luta de classes. Para a burguesia portuguesa esta escolha foi, na melhor das hipóteses, cómica.
Digo-vos que enquanto estratégia de marketing, caso tenha sido esse o motivo do convite (não consigo ver outro), parece-me uma má opção. Dou-vos o exemplo da notícia publicada no jornal PÚBLICO que refere apenas a intervenção de Marcelo e a sua oposição às ideias veiculadas pelos camaradas no livro.
Pergunta o camarada Francisco Louçã no facebook “porquê havemos de seguir o velho preconceito de que quem apresenta um livro é quem está necessariamente de acordo com ele?” E responde a si próprio: “Só vejo vantagens em quebrar esse tabu, convidando alguém que tem certamente outra visão, mas que está bem informado e promove o debate”.
Errado, camarada. Porquê é que tem que ser a esquerda a promover o debate, quando a burguesia não o faz, utilizando todo o tempo de antena de que é proprietária na defesa dos seus interesses? Como se já não bastasse a supremacia da divulgação de ideologia neo-liberal nos meios de comunicação social em relação a qualquer ideia alternativa, onde Marcelo pontifica, actualmente temos o partido de Marcelo a utilizar o seu poder político no governo para censurar todas as vozes incómodas que consegue.
Os camaradas perderam uma excelente oportunidade de terem convidado uma família endividada, uma das cem mil pessoas que têm o salário penhorado, um dos quase dois milhões de pobres em Portugal. Isto sim teria sido uma escolha polémica, mas para a burguesia. São essas as vítimas da Dividadura, são essas as pessoas que mereciam ter tido uma oportunidade de denunciar publicamente as consequências directas do capitalismo nas suas vidas. Espero que seja sobre isso que fale o livro. Eu não o irei comprar nem ler, portanto não o saberei. Encontro-me a modos que, endividado.
03/03/12
02/03/12
01/03/12
25/02/12
23/02/12
Zeca
Mauro disse...
Essa canção dos Bravos não é interpretada pelo Zeca, os comments
aí no youtube dizem o nome do sujeito. (até pq o vocal não tem nada a
ver com do Zeca)
De qualquer modo bom som.
De qualquer modo bom som.
21/02/12
20/02/12
19/02/12
Workshop de dança/Movimento para cegos, bailarinos e técnicos
Projecto europeu de dança inclusiva que visa a integração de pessoas cegas e com baixa visão nas artes performativas
Orientado pela coreógrafa norueguesa Kjersti Engebrigtsen
Inscrições AbertasValor: 20€ para bailarinos/performers e técnicos
Participação gratuita mediante inscrição utentes de Associações ou Organizações de deficiência visual 12 a 16 de Março (5 dias)
Horários - 10h às 12h30 ou 14h às 16h30 ou 17h30 às 19h30 (cada turno = 20 vagas, metade deficientes visuais)
Local - 10h às 12h30 e 14h às 16h30 / Estúdios da Companhia Nacional de Bailado* 17h30 às 19h30
18/02/12
14/02/12
13/02/12
10/02/12
Trienal de Arquitectura
Palácio Sinel de Cordes, 144
Campo de Sta. Clara ( à Feira da Ladra)
Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens de Método
Campo de Sta. Clara ( à Feira da Ladra)
Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens de Método
09/02/12
08/02/12
07/02/12
06/02/12
05/02/12
04/02/12
03/02/12
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